Água – E quando o recurso mais precioso deixar de estar disponível?
Estando praticamente a meio do Inverno – altura onde grande parte da precipitação ocorre no nosso país, são ainda mais reveladoras as constantes publicações e notícias sobre a falta de água, sobretudo na região sul de Portugal.
O problema da falta de água, apesar de sentido por todos, tem opiniões bastante diferentes, consoante o setor e o cargo que a pessoa representa. A escassez de algo remete para uma das correntes mais fortes na gestão e compreensão do tema – a disciplina da economia. Esta permite-nos observar a problemática em função de dois vetores – a oferta e a procura. E é aqui que as opiniões divergem.
Na parte da oferta, as soluções mais faladas são o aumento das barragens e das captações de água, as unidades de dessalinização e a mais surpreendente será a autoestrada da água entre o Norte o Sul, com um plano ambicioso de transferência de água entre as bacias hidrográficas do Norte do país e as do Sul. Para grandes problemas, grandes soluções. E cada uma destas soluções que vão melhorar a oferta de água, será provavelmente necessária, tendo em conta o grave problema que o país enfrenta, pois se um por lado vai chover menos, por outro lado a água vai desaparecer mais rápido em função da evapotranspiração inevitável com o aumento da temperatura.
Caso exista uma gestão eficiente de água no nosso país, esta não deverá faltar, sendo a canalização de fundos do PRR para o problema da água uma das grandes prioridades dos vários Governos. Estaremos é provavelmente a chegar ao fim da água barata, pois cada uma destas soluções alternativas à precipitação – a única obviamente grátis – tem custos que podendo ser debatidos e especulados, trarão sempre onerosidade que terá de ser passada para os consumidores finais.
E a procura? Será sempre um tema sensível falar em restrições à procura, pois sendo a água um bem fundamental para a Humanidade, qualquer limite à sua utilização apenas faz sentido em situações críticas de disponibilidade. No entanto, será fundamental otimizar esta procura, ou seja, eliminar desperdícios resultantes de perdas e utilizações indevidas. É assim essencial controlar de forma rigorosa a utilização da água. As perdas na grande distribuição de água por parte dos Municípios são sobejamente conhecidas, tendo a percentagem de perdas sido estimada em 30%. É impensável num país que estará cada vez mais em stress hídrico, aceitar com normalidade estes valores. Não serão certamente os Municípios os únicos esbanjadores deste recurso cada vez mais precioso. O problema é transversal aos vários setores da sociedade, tendo sido colmatado com a utilização de águas subterrâneas e – uma vez mais – o baixo preço que a água tem, insuficiente para a adoção de medidas de poupança de água.
Os avanços tecnológicos no domínio da sensorização vieram permitir a possibilidade de gestão em tempo real dos consumos de água e eletricidade, reforçando o leque de ferramentas disponíveis com capacidade para auxiliar na sua gestão. Em paralelo, a utilização de ferramentas de estatística e análise de dados, com recurso a algoritmos baseados em machine learning e IA (inteligência artificial), complementam o enorme potencial existente para que as diferentes explorações e unidades possam saber, identificar desvios e, inclusive prever, com um elevadíssimo grau de confiança, os seus consumos.
Sérgio Queirós
CEO e Fundador da BE Bluenergy